Erika Prado: desafios, realizações e próximos objetivos de uma engenheira da Fórmula 4
- Júlia Palomares Aro
- 9 de dez. de 2023
- 6 min de leitura
Conheça a engenheira da Cavaleiro Sports, sua carreira e suas realizações no esporte a motor
A Fórmula 4 chegou ao Brasil em 2022, mas antes disso Erika já trabalhava no meio e era apaixonada de longa data pelo esporte a motor. De uma categoria a outra, a engenheira constrói sua carreira no meio com objetivos, realizações e desafios no caminho. Além da F4 Brasil, Erika guia o Girls Like Racing, projeto que busca abrir espaço para as mulheres no esporte e garantir o acolhimento no meio. Em entrevista ao box box boletim., Erika explica como chegou até a F4, a origem do projeto que dirige e seus próximos objeivos no automobilismo.

[Imagem: Acervo Pessoal/Erika Prado]
Início de carreira na Fórmula 4
Em entrevista, Erika conta que sua história com o automobilismo começou antes mesmo do início oficial da Fórmula 4 no Brasil. Já tendo trabalhado na Fórmula V, no Campeonato Paulista, na Copa HB20, na Stock Light e na organização técnica do GP do Galeão da Stock Car, ela já sabia que seu próximo interesse era a nova categoria nacional, que chegaria às pistas em 2022, a F4 Brasil. Já buscando ingressar no meio, e após já ter demonstrado interesse na categoria, Erika foi chamada para receber os carros importados da Fórmula 4 que chegariam desmontados ao Brasil.
A engenheira conta: "eu já tinha achado o manual na internet, eu tinha lido muito sobre o carro, visto corrida, sabia qual sistema tinha, sabia tudo. Eu me preparei do jeito que dava. Precisava de alguém para receber os carros desmontados e as peças, de alguém para fazer inventário, e o que eu fiz? Falei 'pode contar comigo, semana que vem to aí'. Cheguei no galpão, e eu tinha caixas e um sonho, era isso".

[Imagem: Reprodução/Erika Prado via Instagram]
Desafios e realizações da carreira
Mais tarde, depois que a categoria começou de fato e depois que Erika se tornou engenheira da Fórmula 4 na Cavaleiro Sports, ela pôde perceber as realizações e desafios da carreira, tanto que diz: “eu me sinto muito realizada e sou apaixonada pela minha profissão”. Ainda assim, ela pontua que nem tudo é como imaginava, e revela que o que mais a surpreendeu foi que as maiores exigências não foram relacionadas à técnica do carro, que essas, mesmo quando não soube de imediato como resolver, aprendeu.
A engenheira explica que outras exigências se mostraram maiores: “tem muitas coisas que eu não podia prever, por exemplo, hoje eu faço o plano de viagem da equipe, são coisas que eu nunca imaginei que eu fosse lidar, mas que fazem parte do meu trabalho, porque a equipe tem que saber se organizar e isso é um papel do engenheiro, e eu nunca imaginei que o engenheiro tivesse esse papel, mas tem”.

[Imagem: Reprodução/Erika Prado via Instagram]
Mas esse não é o único desafio, Erika conta que, profissionalmente, o maior desafio é crescer, principalmente por conta da falta de tempo. Ela diz: “eu tenho objetivos e o meu maior objetivo é chegar na Stock Car, mas é muito difícil porque a gente está sempre submersa em trabalho. Como você vai se estudar e se empenhar para outra coisa se você está submersa em trabalho? É um desafio muito grande, meu maior desafio desse ano tem sido focar no objetivo e trabalhar em prol do objetivo”.
Sobre a vida pessoal, Erika pontua que o mais difícil é conciliá-la com a carreira. Entre a rotina corrida de viagens, prazos e demandas, o jeito é se desdobrar para viver a vida pessoal, manter amizades, relacionamentos e ainda administrar a carreira. Apesar de todos os desafios, Erika não deixa de pontuar: “sou muito feliz fazendo o que eu faço”, reiterando sua paixão pela profissão.
Entre a vitória e a derrota
Quando questionada sobre como é lidar com a vitória e com a derrota, Erika não esconde que, ainda que perder ensine, ganhar é importante e é disso que a equipe gosta. Nas palavras da engenheira: “ninguém sai de casa para perder, a gente sai de casa para ganhar”. Ainda assim, ela reconhece a importância da derrota na trajetória de toda a equipe: “perder é o que mais ensina, ensina o piloto, ensina a equipe. A gente sempre costuma lidar com as nossas perdas como se fossem lições, são lições amargas, mas a gente tem que aprender”. E já que não dá para ganhar todas, a engenheira reitera que o que ela e sua equipe buscam fazer é transformar as derrotas em aprendizados, até para que as vitórias que vierem possam ser aproveitadas ao máximo.

[Imagem: Reprodução/Erika Prado via Instagram]
Até porque as vitórias também ensinam, quando poderia ser melhor, quando 1 no pódio poderiam ser 2 ou 3, existe aprendizado a ser tirado dessas situações e é isso que Erika e sua equipe fazem. Ela diz: “a gente aprende de todas as formas, mas é difícil lidar com a derrota, não vou nem mentir. Às vezes é difícil, é difícil para eles, é difícil para a gente que tem que dar estrutura para eles e, principalmente, se a equipe erra, se o carro quebra”, levando em consideração que, no último caso, a equipe se sente ainda mais responsável, mais que em batidas que podem acontecer eventualmente.

[Imagem: Reprodução/Erika Prado via Instagram]
Girls Like Racing e a segurança das mulheres
Além do trabalho na Fórmula 4, Erika também guia o Girls Like Racing, projeto que busca aproximar mulheres ao esporte a motor e garantir que este seja uma ambiente seguro para elas. Conversando sobre o início da ideia, a engenheira conta que o projeto foi criado quase sem querer, nas palavras dela: “se transformou em realidade sozinho”. Lá em 2018, nas arquibancadas do GP do Brasil de Fórmula 1 e ainda não nos boxes, Erika recebeu a sugestão de criar um grupo para que mulheres pudessem conversar sobre Fórmula 1, foi o início do que se tornaria, em breve, muito maior.
Quando um tweet sobre o grupo foi lido no SporTV, o crescimento foi exponencial, com cada vez mais mulheres se juntando para falar de automobilismo. Erika conta que, na época, o grupo se chamava “Mulheres na Fórmula 1”, mas as conversas ultrapassavam os limites da categoria, indo da Indy à Stock Car. Por isso, resolveram alterar o nome, foi quando surgiu o “Girls Like Racing”. No ano seguinte, em 2019, o grupo criou uma conta no Instagram e, assim, o projeto continuou a crescer. “Foi uma coisa que foi puxando a outra e o meu sonho sempre foi e continua sendo trazer mais mulheres para o esporte”, conta Erika sobre a naturalidade de como as coisas aconteceram no projeto.

[Imagem: Reprodução/Erika Prado via Instagram]
Tendo sempre como sonho e objetivo trazer mais mulheres para a pista, Erika conta: “o Girls virou um movimento e hoje a gente se movimenta em prol de trazer mais mulheres, não só pra torcida, mas também como profissionais para o meio, para a menina entender que ela tem uma oportunidade ali dentro. Ela só precisa correr atrás e a gente tem que fazer a nossa parte de tentar abrir portas”. E explica o propósito disso tudo: “quando eu me proponho a dar uma entrevista, a levar uma menina para o evento e a gente faz a ação dentro da Stock Car e a menina conhece outros profissionais, de repente ela vê ali um meio de mandar um currículo, de ver uma possibilidade de carreira, esse é o papel do Girls hoje”.
Sobre a segurança nos autódromos e a rede de apoio que o Girls Like Racing promove, Erika conta que está sempre atenta e que, como já disse às meninas do projeto, só haverá segurança a partir do momento em que nenhuma estiver sozinha. E diz: “juntas a gente vai muito mais longe”. Erika destaca que é uma ilusão achar que é bonitinho ser a única mulher da turma, nas palavras da engenheira: “é horrível, é um inferno e todo mundo vai ficar falando, vai ficar descredibilizando, e o que facilita muitas situações é ter outra mulher para te apoiar”. Por isso, o Girls Like Racing busca aumentar a quantidade e as possibilidades das mulheres no automobilismo.

[Imagem: Reprodução/Erika com Cecília Rabelo via Instagram]
Para conhecer melhor o projeto, acesse: Girls Like Racing.
Inspiração e próximos objetivos
Quando questionada sobre o que a inspira e a mantém no esporte, Erika não hesita em falar de Rachel Loh, engenheira da Stock Car Pro Series, categoria na qual Erika quer trabalhar um dia. Nas palavras dela: “a Rachel Loh hoje é quem me mantém no eixo e é quem me inspira. A Rachel é uma amiga incrível. Ela se tornou muito próxima de mim e a gente divide muitas coisas na vida, muitos sonhos, muitos objetivos. A Rachel me inspira muito, um dia eu quero ser uma engenheira como ela". Erika ainda adiciona: “ela é a única engenheira mulher responsável por um carro de Stock Car e a Stock Car onde eu quero estar”, destacando a amiga que a inspira, e sobre seu próximo objetivo no automobilismo.

[Imagem: Reprodução/Erika Prado via Instagram]
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