Girls On Track: a corrida das mulheres por mais espaço no automobilismo
- Júlia Palomares Aro com colaboração de Bianca Hirakawa
- 7 de mar.
- 4 min de leitura
Conheça o projeto que busca incluir mais mulheres no esporte a motor e impacta nova geração
A inclusão das mulheres no automobilismo é uma dificuldade antiga e persistente de forma generalizada no meio. Apesar da maioria das categorias do automobilismo serem mistas e, em teoria, não restritas aos homens, isso muitas vezes não se converte em prática. Os números do esporte falam por si só e escancaram essa realidade. Por exemplo: desde o lançamento da Fórmula 1, em 1950, só 5 mulheres disputaram Grandes Prêmios, e só em 2025 surgiu a primeira engenheira de corridas da categoria, Laura Muller, na Haas. Na Fórmula 2, a primeira vaga preenchida por uma mulher só veio em 2019, através de Tatiana Calderón. E a Stock Car, principal categoria do automobilismo nacional, caminha para a sua sexta temporada sem mulheres titulares no volante. Frente a essa dificuldade, foi criado o projeto Girls On Track, que busca mudar o cenário do automobilismo ao trazer cada vez mais mulheres para o meio.
![[Imagem: Divulgação/Comissão Feminina de Automobilismo da CBA]](https://static.wixstatic.com/media/f20bb4_3edb73f966044139a138c3eb4610a617~mv2.png/v1/fill/w_640,h_372,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/f20bb4_3edb73f966044139a138c3eb4610a617~mv2.png)
A iniciativa veio da FIA (Federação Internacional do Automóvel), começou no exterior e chegou ao Brasil no final de 2022. Desde então, o programa já tornou possível que mulheres se aproximassem do automobilismo nas pistas, nos boxes e nos paddocks do Brasil. Para isso, o Girls On Track realiza palestras, oferece estágios, faz seletivas e testes de pilotagem e convida mulheres a participarem dos finais de semana de corrida das mais diversas categorias. Para entender como o projeto funciona na prática e o impacto que isso tem no automobilismo e na vida das mulheres que passam pelo Girls On Track, o box box boletim conversou com quatro delas: Amanda dos Santos, Beatriz Martins, Gabriela Chedid e Vanessa Alencar.
![[Imagem: Divulgação/Comissão Feminina de Automobilismo da CBA]](https://static.wixstatic.com/media/f20bb4_b0e09d1e53f14a2688d25a2a55da4c63~mv2.png/v1/fill/w_640,h_427,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/f20bb4_b0e09d1e53f14a2688d25a2a55da4c63~mv2.png)
Amanda, Beatriz e Vanessa participaram da edição de 2024 das Mil Milhas de São Paulo, e Gabriela participou da edição de 2023 do ePrix de São Paulo da Fórmula E. As posições variaram, mas seja entre engenheiras, comunicadoras ou comissárias de pistas, foi senso comum que a experiência promoveu muitos ensinamentos, oportunidades e que chegou a ser ponto decisivo nas vidas das participantes. Gabriela Chedid, ao compartilhar como foi sua experiência com o Girls On Track, disse: “mudou muitas coisas pra mim, digo isso em questão de aprendizado sobre a mecânica dos carros, sobre tentar descobrir o que eu realmente gostaria de seguir como profissão! Acredito que a imersão vá muito mais de um dia divertido sobre automobilismo, ela chega a ser um divisor de águas para muitas meninas que têm a oportunidade de participar, assim como eu!”. Com resultados como esse, o projeto aos poucos cumpre seus objetivos e insere mais mulheres no automobilismo.
O mundo sobre rodas, inclusive, não era novidade para nenhuma das participantes do projeto. Apesar de cada entrevistada mostrar uma história diferente com o automobilismo, é unânime que o universo a motor teve importância na vida de todas. Amanda conta que seu gosto pelo esporte a motor começou na infância e que, mais tarde, isso a fez escolher seguir carreira na engenharia mecânica. Gabriela conta que seu pai é engenheiro e que, por isso, sempre revisou carros com ele e buscou aprender mais a respeito desse mundo, além de acompanhar a Fórmula 1 em família aos domingos. Beatriz, filha de mecânico, diz que na oficina conheceu mais sobre o universo a motor e que o gosto pelo automobilismo a ajudou a escolher a engenharia mecânica. Vanessa, que é mãe de mecânica e esposa de mecânico, conta que começou a acompanhar o mundo a motor com sua família, e que agora todos participam da área.
Para as mulheres que querem ingressar no automobilismo, existem exemplos e inspirações, que, muitas das vezes, são as poucas mulheres que já conseguiram espaço na área. Amanda, Beatriz e Vanessa mencionaram Érika Prado dentre suas inspirações, a engenheira trabalha na Fórmula 4 desde o início da categoria no Brasil e sempre busca trazer mais mulheres para o automobilismo. Em entrevista, Prado conta que ser inspiração para as mulheres que buscam entrar no automobilismo é algo incrível. Nas palavras da engenheira: “Eu tenho minhas inspirações ali como a Rachel [Lho], a Bia [Figueiredo] e a Bruna [Frazão], então ser inspiração pra elas é surreal. Eu sinto que ainda tô engatinhando no automobilismo, então essa questão de ser inspiração pra alguém está sempre na minha cabeça. Tenho que andar pra que elas possam correr em um futuro bem próximo”. E acrescenta: “É uma questão que me emociona e me motiva muito”.
Além do Girls On Track, Érika também é parte fundamental de outro projeto, o Girls Like Racing (GLR), que busca, para além do espaço nas pistas e paddocks, tornar as arquibancadas do automobilismo mais seguras para as mulheres. O GLR já apareceu outras vezes no box box boletim, para conhecer mais sobre a iniciativa, basta clicar aqui ou aqui. É importante notar que quanto mais pessoas e projetos se empenharem nessa inclusão feminina no esporte, mais viável ela se torna, até porque, como diz a engenheira: “quanto mais mulheres, mais mulheres”.
![[Imagem: Divulgação/Comissão Feminina de Automobilismo da CBA]](https://static.wixstatic.com/media/f20bb4_be12494fe89048dfb051df97e90e6366~mv2.png/v1/fill/w_640,h_427,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/f20bb4_be12494fe89048dfb051df97e90e6366~mv2.png)
Quando questionadas sobre como conheceram o projeto da FIA, Girls on Track, a resposta foi unânime entre Amanda, Beatriz, Gabriela e Vanessa. Todas as participantes conheceram a iniciativa pelas redes sociais. Por isso, para ficar sabendo das novidades do Girls On Track, o box box boletim sugere que você acompanhe a Comissão Feminina de Automobilismo através do link: instagram/cfa , assim você não vai perder as informações sobre as próximas ações do projeto.
Por fim, com projetos como esse, é possível que no futuro mais mulheres tenham espaço no automobilismo, seja ele nas pistas, nos boxes, nas salas de comissários, nas mídias ou nas arquibancadas. É uma corrida que evidentemente está muito longe de ser vencida pelas mulheres. De todo modo, é importante que as luvas e sapatilhas sejam colocadas e que aceleremos nessa disputa, para que assim a inserção feminina no esporte seja cada vez mais viável, e para que um dia vejamos a bandeirada de perto, não mais numa realidade tão distante.
Texto por Júlia Palomares Aro
Entrevista com Érika Prado e Gabriela Chedid por Júlia Palomares Aro
Entrevistas com Amanda dos Santos, Beatriz Martins e Vanessa Alencar por Bianca Hirakawa e Júlia Palomares Aro
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